Aqui em casa
é preciso disfarçar
ler o jornal
andar ereto
fingir que toma banho
que come
e se delicia.
Aqui em casa
há cães enormes
de dentes de vento
coleiras de pontas
escorrendo uma viscosa
vergonha
do lado de cá do portão.
Há um forro de gesso
sem goteiras
perfeito
e nos alojam
em elevadores
num escudo
de alumínio.
Aqui em casa
defenestramo-nos
sem brechas
úmidos
sem lágrimas
e sujeirinhas
entre os dentes.
Há pedidos
súplicas e ordens
ninguém se curva
e reclama
estamos eretos
lendo o jornal
tomando banho
comendo
e nos deliciando.
terça-feira, 19 de maio de 2009
Unha
E que fim levou aquela pele
deitada displicente no término da unha
que não era pele nem unha
mas um híbrido da vida que roçava no casaco?
O fim dos fins que nunca chega
deitado nas linhas do mesmo casaco
roçando – agora! – um lábio ou dois
que espreguiçam no tecido uma ternura tardia.
O asfalto e as fezes tingindo as muretas
chapiscadas de negligência, amarradas
entre o corpo e a carroça com fio de ferro torcido
As luzes verdevermelhas com mãos espalmadas
trazendo lembranças de andar de mãos dadas.
E aqui fica o sonho
escondido entre as palavras
entre embranquecer os dentes e as roupas novas
compradas a preço de vida.
E ali vai o sonho
acanhado na ilha das avenidas
com os sons das letras apressadas
desviando das motocicletas, das pernas
e das manchas de óleo no vão das sarjetas.
Mais além veremos um sol morrendo
e pensaremos que este era o sonho
que já sangra na cutícula retirada
no término da unha
na vida híbrida que nunca se acaba.
deitada displicente no término da unha
que não era pele nem unha
mas um híbrido da vida que roçava no casaco?
O fim dos fins que nunca chega
deitado nas linhas do mesmo casaco
roçando – agora! – um lábio ou dois
que espreguiçam no tecido uma ternura tardia.
O asfalto e as fezes tingindo as muretas
chapiscadas de negligência, amarradas
entre o corpo e a carroça com fio de ferro torcido
As luzes verdevermelhas com mãos espalmadas
trazendo lembranças de andar de mãos dadas.
E aqui fica o sonho
escondido entre as palavras
entre embranquecer os dentes e as roupas novas
compradas a preço de vida.
E ali vai o sonho
acanhado na ilha das avenidas
com os sons das letras apressadas
desviando das motocicletas, das pernas
e das manchas de óleo no vão das sarjetas.
Mais além veremos um sol morrendo
e pensaremos que este era o sonho
que já sangra na cutícula retirada
no término da unha
na vida híbrida que nunca se acaba.
O Negrume da Noite
O negrume da noite nos trouxe o medo e o amor
e nem conseguimos distingui-los,
misturaram-se aos pensamentos e à poeira;
tudo em volta podia ser um grito de paixão,
como podia ser um terror escancarado,
aberto numa boca cheia de cáries.
Eles tinham o mesmo cheiro de infância:
submissão.
E engrandeciam as sombras tornando-as braços da morte,
aconchegantes bíceps
que apertavam a garganta e inundavam os corações.
Alguém gritou: "chegou o amor!".
Uma luz acendeu o dia e os pássaros voaram no contraste do azul indefinido
como sempre faziam.
e nem conseguimos distingui-los,
misturaram-se aos pensamentos e à poeira;
tudo em volta podia ser um grito de paixão,
como podia ser um terror escancarado,
aberto numa boca cheia de cáries.
Eles tinham o mesmo cheiro de infância:
submissão.
E engrandeciam as sombras tornando-as braços da morte,
aconchegantes bíceps
que apertavam a garganta e inundavam os corações.
Alguém gritou: "chegou o amor!".
Uma luz acendeu o dia e os pássaros voaram no contraste do azul indefinido
como sempre faziam.
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