terça-feira, 19 de maio de 2009

Unha

E que fim levou aquela pele
deitada displicente no término da unha
que não era pele nem unha
mas um híbrido da vida que roçava no casaco?
O fim dos fins que nunca chega
deitado nas linhas do mesmo casaco
roçando – agora! – um lábio ou dois
que espreguiçam no tecido uma ternura tardia.
O asfalto e as fezes tingindo as muretas
chapiscadas de negligência, amarradas
entre o corpo e a carroça com fio de ferro torcido
As luzes verdevermelhas com mãos espalmadas
trazendo lembranças de andar de mãos dadas.
E aqui fica o sonho
escondido entre as palavras
entre embranquecer os dentes e as roupas novas
compradas a preço de vida.
E ali vai o sonho
acanhado na ilha das avenidas
com os sons das letras apressadas
desviando das motocicletas, das pernas
e das manchas de óleo no vão das sarjetas.
Mais além veremos um sol morrendo
e pensaremos que este era o sonho
que já sangra na cutícula retirada
no término da unha
na vida híbrida que nunca se acaba.

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